A série Shazam! (1981), produzida pela Filmation, trouxe o Capitão Marvel de volta às telas com uma fidelidade rara às histórias originais da DC Comics.
Integrante do bloco The Kid Superpower Hour with Shazam! da NBC, o desenho destacou-se por incluir a Família Marvel completa — Mary Marvel, Capitão Marvel Jr. e Tio Dudley — em aventuras que rivalizavam com o tom épico das HQs. Diferente da série live-action de 1974, esta versão animada enfrentou vilões icônicos como Dr. Silvana, Adão Negro e Sr. Cerebro, equilibrando humor e ação em episódios de 12 minutos que conquistaram fãs no Brasil através do Balão Mágico da Globo na década de 1980.
Produção e legado da Filmation
A Filmation, conhecida por He-Man e She-Ra, apostou em roteiros que misturavam fantasia e sci-fi: episódios como "A Incrível Cidade Que Afundava" mostravam o Sr. Cerebro usando vermes para dominar Fawcett City, enquanto "O Retorno de Adão Negro" explorava a mitologia egípcia do vilão. A dublagem brasileira, feita pelo estúdio Herbert Richers, contou com vozes lendárias como Júlio Chaves (Capitão Marvel) e Isaac Bardavid (Adão Negro), imprimindo personalidade única às cenas de transformação — o famoso "Shazam!" ecoava com a mesma dramaticidade dos quadrinhos.
Curiosamente, o desenho quase não existiu: a Filmation inicialmente planejava uma série com personagens da Archie Comics, mas optou por criar Hero High (exibida no mesmo bloco) após romper com a editora. A crossover inédita entre as duas séries no episódio "Star Master e o Espelho Solar" — onde o Capitão Marvel recruta estudantes de Hero High para salvar a Terra — antecipou tendências de universos compartilhados, uma raridade para a época.
Vilões e enredos memoráveis
Dr. Silvana, dublado por Alan Oppenheimer nos EUA e Mário Monjardim no Brasil, roubava a cena com planos absurdos: em "Uma Ameaça de Família", ele e sua família ganhavam poderes equivalentes aos Marvels através de um amuleto alienígena, forçando um confronto épico. Já Adão Negro, voz de Lou Scheimer na versão original, surgia em tramas sombrias como a ressurreição da princesa Jemia, sequestrando Mary Marvel no espaço — um arco que mesclava mitologia e ficção científica.
A série também inovou ao humanizar os heróis: episódios como "O Casamento do Tio Dudley" mostravam o lado cômico da Família Marvel, com o tio sendo raptado pela vilã Tia Minerva, que o forçava a um casamento arranjado. A cena em que os heróis são amarrados e amordaçados por capangas da vilã, comum em vários episódios, tornou-se uma marca registrada, satirizando clichês de séries de aventura.
Disponibilidade e impacto cultural
Com apenas 13 episódios produzidos (embora fontes citem até 38 segmentos no bloco original), o desenho teve vida curta, mas deixou legado: fãs preservam cópias em VHS da exibição brasileira, enquanto plataformas como YouTube e Archive.org disponibilizam episódios restaurados. A dublagem clássica, especialmente as vozes de Vera Miranda (Mary Marvel) e Cleonir dos Santos (Capitão Marvel Jr.), é cultuada em fóruns como o Reddit, onde colecionadores debatem erros de continuidade — como o uniforme de Mary Marvel mudando de cor entre cenas.
Apesar de ignorado em relançamentos recentes da DC, o desenho influenciou adaptações como Young Justice, que homenageou o Sr. Cerebro em 2019. Sua trilha sonora eletrônica, composta por Ray Ellis e Yvette Blais, também ganhou status cult, remixada por fãs em plataformas como SoundCloud.
Por que Shazam! (1981) ainda importa?
Enquanto a série live-action de 1974 focava em lições morais, a versão animada mergulhava no nonsense dos quadrinhos dos anos 1940 — algo que até o recente filme Shazam! da DC evitou. Cenas como o Capitão Marvel usando um espelho solar para derrotar o alienígena Star Master, ou o Tigre Tony (dublado por Orlando Drummond) tentando entrar para o circo, encapsulam o espírito lúdico que definiu a Era de Prata dos desenhos animados.